Compositor: Violeta Parra
Voltar aos dezessete
depois de viver um século
é como decifrar signos
sem ser sábio competente
voltar a ser de repente
tão frágil como um segundo
voltar a sentir profundo
como uma criança frente a Deus
isso é o que sinto eu
neste instante fecundo
Vai se enredando, enredando
como no muro a erva
e vai brotando, brotando
como o musguinho na pedra
como o musguinho na pedra
Ai, sim sim sim
Meu passo retrocedido
quando o de vocês avança
o arco das alianças
penetrou em meu ninho
como todo seu colorido
passou por minhas veias
e até as duras correntes
com que nos ata o destino
é como um diamante fino
que ilumina minha alma serena
Vai se enredando, enredando
como no muro a erva
e vai brotando, brotando
como o musguinho na pedra
como o musguinho na pedra
Ai, sim sim sim
O que pode o sentimento
não pôde ele saber
nem o mais claro proceder
nem o mais largo pensamento
tudo muda em um momento
como mago condescendente
nos afasta docemente
de rancores e violências
só o amor com sua ciência
nos torna tão inocentes
Vai se enredando, enredando
como no muro a erva
e vai brotando, brotando
como o musguinho na pedra
como o musguinho na pedra
Ai, sim sim sim
O amor é redemoinho
de pureza original
até o feroz animal
sussurra seu doce gorjeio
detém aos peregrinos
libera os prisioneiros
os amor com seus esmeros
ao velho o transforma em criança
e ao mau só o carinho
o transforma em puro e sincero
Vai se enredando, enredando
como no muro a erva
e vai brotando, brotando
como o musguinho na pedra
como o musguinho na pedra
Ai, sim sim sim
De par em par na janela
abriu como por encanto
entrou o amor com seu manto
como uma leve manhã
ao som de sua bela diana
fez brotar o jasmim
voando tal qual serafim
ao céu o pôs brincos
e meus anos em dezessete
os converteu o querubim
Vai se enredando, enredando
como no muro a erva
e vai brotando, brotando
como o musguinho na pedra
como o musguinho na pedra
Ai, sim sim sim