Compositor: Violeta Parra
Eu amaldiçoo dos altos céus
A estrela com seu reflexo
Amaldiçoo os telhados
O brilho do riacho
Eu amaldiçoo do chão baixo
A pedra com o seu contorno
Amaldiçoo o fogo do forno
Porque a minha alma está de luto
Amaldiçoo os estatutos
Do tempo com seus afrontamentos
Cuanta será a minha dor
Amaldiçoo a cordilheira
Dos Andes e da costa
Amaldiçoo toda a curta
E longa faixa de terra
Mesmo a paz e a guerra
O generoso e o leviano
Amaldiçoo o perfumado
Porque o meu desejo está morto
Eu amaldiçoo todo o certo
E o errado com o duvidoso
Cuanta será a minha dor
Amaldiçoo a primavera
Com seus jardins em flor
E do outono, a cor
Eu realmente amaldiçoo
A nuvem passageira
A amaldiçoo tanto e tanto
Porque eu pareço um quebranto
Amaldiçoo o inverno inteiro
Com o verão sincero
Amaldiçoo o profano e o sagrado
Grande será a minha dor
Amaldiçoo a solitária
Figura da bandeira
Amaldiçoo qualquer emblema
A Vênus e a Araucária
O gorjeio dos pássaros
O cosmos com seus planetas
A terra e todas as suas fendas
Porque me assola um pesar
Amaldiçoo o vasto mar
Seus portos e enseadas
Grande será a minha dor
Amaldiçoo a Lua e paisagem
Os povoados e os desertos
Amaldiçoo o morto por morto
E o vivo, de rei a pagem
As aves com sua plumagem
Eu a amaldiçoo a sangue-frio
As aulas, as sacristias
Porque me aflige uma dor
Amaldiçoo a palavra amor
Com toda a sua bruxaria
Cuanta será a minha dor
Amaldiçoo, por fim, o branco
O negro com o amarelo
Bispos e coroinhas
Ministros e pregadores
Eu os amaldiçoo cantando
O livre e o prisioneiro
O dócil e o briguento
Eu lanço a minha maldição
Em grego e em espanhol
Por culpa de um traidor
Cuanta será a minha dor